quarta-feira, 29 de abril de 2009

encontros com o passado.

Caminho na saudade de um passado inconsciente, na esperança de o encontrar em uma qualquer esquina que vire. Encontrarei, amanhã talvez, num futuro quase próximo e impossível de alcançar. Ganharei asas e voarei, alto, bem alto, o mais que consiga... mas encontrarei! Quase o agarrei, nunca o sentira tão próximo e rapidamente o perdi de vista. Abraçá-lo-ia como se do último encontro se tratasse. Esperando, contudo, que o primeiro de muitos que daí adviriam fosse. Que sonho, que fantasiado sonho o meu. Verdade não seria, o que foi não volta a ser... mesmo que muito se queira. Porque regressaste passado? Diz-me, porque o fizeste? Não estavas bem onde sempre estiveste, não estavas bem longe de mim? Mesmo querendo e desejando com todas as minhas forças, eu não te quero aqui, não quero... nem posso querer. Não sei bem como aconteceu, se quando vagueava pelas ruas, por entre prédios e lojas cheias de fúteis e futilidades, se quando me encontrava rodeada de conversas cruzadas num qualquer transporte público. Só sei que a cruzei... passei por ela devagar e o tempo parou. Tinha agora em mim todo o tempo do mundo, e com ele, todos os sonhos. Presenciava-o agora, olhando-o com outros olhos, não poderia o meu olhar ser o mesmo de sempre se eu própria mudei, moldei-me a ele e indiferença é coisa que lhe não tenho. Não devia ter regressado mas o certo é que regressou sem que nunca esteja presente, está sem estar e eu sinto-o. Talvez um dia compreenda o quanto me incomoda e vá de vez. O «para sempre» que nele construí foi-se desvanecendo com o tempo, não era eterno. Descobri então que o «para sempre» não existe e que apesar de voltar sempre que a minha mente o permite, sabe também que não mais existe, fugiu-me por entre os dedos tal como o «sempre», e tudo que parecia ser eterno. Foi então que a baptizei, e nela escrevi em letras bem grandes, para que todos soubessem:


Esquina do passado.

Ao regressar a casa pensei em tudo que o dia me tinha reservado, e que dia... estou estafada. Entretanto, voltei atrás... lembrei-me de que não deveria ter escrito o que escrevi, não daquela forma. Ao chegar ao local ouvi um sussurro que me fez recuar lentamente, enquanto o ouvia ecoando em todos os cantos da minha cabeça:

Não se escolhe, acontece. - sussurrou a esquina por entre suspiros.

Que saberia ela de mim? Não poderia saber mais e melhor, acertou em cheio.