quinta-feira, 6 de maio de 2010

Eu amo-te, alguma vez to disse?



Chamo-lhe amor para simplificar. Há palavras assim, que se dizem como calmantes. Palavras usadas em série para nos impedir de pensar. Chamo-lhe amor porque assim o é, um amor sólido e incontestável. Eu amo-te, alguma vez to disse? Desculpa andar sempre ocupada demais para tal, ocupada demais para sentir, ocupada demais para ter tempo. O amor é intemporal, dizem. O amor arrebata-nos por dentro, oferece-nos um lindo sorriso e um bater suave do coração. Eu amo-te, alguma vez to disse? Há noites seguidas que tenho este sonho, o nosso sonho, chamo-lhe. Há noites seguidas que não durmo para te sonhar, noites belas e curtas. Curtas demais para te viver, belas demais para as abandonar. O cansaço apodera-se de mim... mas não te preocupes, não te deixarei uma única noite sem mim. Não ficarás à minha espera, bebo dois/três cafés, se necessário. E eu que odeio café! Tudo para poder passar algum tempo contigo. Eu amo-te, alguma vez to disse? E antes que a manhã comece e eu me esqueça de ti, na rotina que são os meus dias, quero lembrar-te que não estás aqui e o teu abraço não chega. Deixo-te cair no meio dos meus projectos, perdes-te nas folhas que assino e deixo por assinar, nas reuniões sempre com pressas e esquecimentos, acabo por me esquecer de ti. Ficas sentado na esplanada do nosso restaurante, horas e horas, até que o teu telemóvel toca, e suspiras, porque sabes que te voltei a esquecer. Eu amo-te, alguma vez to disse? Gostava de ter mais tempo, dizes que me compreendes, que fica para o dia seguinte, mas no dia seguinte sabes que não me vou voltar a lembrar de ti. É disso que eu gosto tanto em ti, vives a vida na tua eterna liberdade e não esperas nada de ninguém, mas quando o sol cai e a noite volta para me lembrar que sou eu que espero por ti e sonho-te, às voltas na cama, porque sei que quando chegar a manhã, eu vou voltar a não ter tempo para ti. Eu amo-te, alguma vez to disse? Juro que largo tudo, um dia, só para poder ter tempo para ti. Largo esta minha vida atarefada pelo doce prazer de te abraçar, de me perder nos teus braços. E saber que estarás sempre sentado nessa esplanada, com vista para o mar revolto que tanto adoramos, tem um gostinho tão doce quanto os teus beijos. Tu és o único que nunca me pode esquecer. Esquecemos alguma vez uma parte do que somos? Esquecemos apenas o que podemos isolar na lembrança. Eu amo-te, alguma vez to disse? Estaremos juntos ao luar, a papelada esquecida na secretária. E eu que nunca abandono um projecto a meio. Fá-lo-ei por ti, prometo. Ainda acreditas nas minhas promessas? Quando as coisas deixam de durar, alteram-se. O simples facto de deixarem de ser altera-as, por mais que procuremos fazê-las estancar. És a excepção à regra, disse-te em tempos ao ouvido num leve sussurro. E volto a repeti-lo, agora, longe de ti. Eu amo-te, alguma vez to disse? Um dia, recebes uma mensagem minha a dizer que estou aí dentro de 5 minutos, e se, nesse dia já não acreditares em mim, eu juro que espero por ti, peço a mesma mesa onde te sentas todos os dias, e um gin tónico, como tu fazes para não te cansares de esperar enquanto desfrutas da vista. Quando chegares, dou-te um beijo para te lembrares do sabor dos meus lábios e relembrares o desejo que sempre sentiste por mim, pedimos a conta e vamos a minha casa, arrumamos todos aqueles lápis e mais réguas de diferentes formas e feitios numa caixa, e acabamos com as minhas arquitecturas e projectos de uma vez por todas! E eu que estudei uma vida, para ter uma paixão, largo tudo por ti. Eu amo-te, alguma vez to disse? Não importa o que se ama. Importa a matéria desse amor, e o nosso amor é feito de esperas e promessas, mas de muito coração. Um dia, agarro nas minhas malas, bato-te à porta e pergunto se ainda queres viver comigo, se me queres aquecer quando as noites são geladas, se queres fazer um dia mais feliz só por dizeres que tens saudades minhas. Eu amo-te, alguma vez to disse? Nesse dia estarei a renunciar a toda uma vida planeada e arquitectada, por mim própria, quando precisei de lutar pela minha sobrevivência. Estarei também a cometer a maior loucura de toda a minha existência, por ti. Nesse dia estarei a quebrar todas as regras, a fugir de todas as responsabilidades, a tornar-me uma rebelde, a entregar-te o meu coração. Dedicar-te-ei todos os meus dias fazendo valer a pena todas as tuas esperas. Não voltarás a ouvir da minha boca que não posso, não devo ou não tenho tempo, serei completamente nossa. Quando esse dia chegar ainda me desejarás? Eu amo-te, alguma vez to disse? Esse amor que me reservaste, que levas contigo para todo o lado, ainda o terás contigo quando eu o reclamar? Podias ter-me esquecido, mas nem uma aventura. Nem uma única noite em lençois alheios, o sexo é a traição dos fracos, e eu não seria capaz de trair este meu amor por ti, disseste-me tu em resposta a uma mensagem que te enviei um dia destes. Uma estranha sensação percorreu todo o meu corpo, soube nesse instante, no preciso momento em que abri a mensagem e a li vezes sem conta, que toda a minha dedicação à profissão não preenche nem metade do que o teu amor consegue. Fizeste-me desejar voltar a ti, voltar a nós. Eu amo-te, alguma vez to disse? Escrevo-te em carta aquilo que a coragem nunca me deixou dizer-te, todas as palavras que não leste em mim porque não me dei, todos os sonhos que planeaste e eu deixei morrer na nossa praia, e o mar levou, para outras pessoas, que, sabe-se lá, os podem ter apanhado, e podem ter dado mais amor a quem os espera, como tu me querias dar a mim. Escrevo-te em carta, todas as tuas ilusões e desilusões e deito aqui todas as minhas promessas, aqui te mando todos os meus beijos, de boa noite e bom dia, aqui te levo os pequenos almoços à cama, e aqui, aconchego-te nos meus sonhos e nos meus abraços. Um dia, dou-te todo o tempo do mundo, e podes conhecer tudo o que de mim, nunca deixei. Deitamo-nos na areia à beira-mar, deixamos que as ondas nos cerquem, envolvemos os nossos corpos e fazemos amor em cada pedaço de nós, horas e horas, nessa praia, nesse mar, eu prometo - Amanhã mudo-me pra tua vida. Eu amo-te, alguma vez to disse?