Faz hoje três anos que partiste.
Sabes, esse teu mundo deve ser melhor que o nosso. Diz-me... tens-te dado bem aí em cima? É cruel o mundo visto daí? E as pessoas... diz-me, que te parecem vistas daí? Sinto a tua falta aqui! Talvez não esperasses isto de mim mas, às vezes o que menos esperamos acontece. Tenho saudades de ir visitar a avó, como eu costumava dizer, e ver-te sentado no mesmo sítio de sempre. Apesar de todos os teus defeitos, e eram muitos, sempre sorriste quando me vias. E eu odiava, com todas as minhas forças, quando dizias olha a minha morena. Agora sinto falta disso, sabias? Desculpa se não tive coragem de te acompanhar até ao fim. No dia anterior estava certa que iria mas, de manhã ao despertar... perdi a coragem. Soube que o meu pai chorou muito e eu não aguentava vê-lo chorar nem mais um bocadinho. Ele ainda chora, sabes? E eu também... O Natal é mais triste agora. Lembraste da confusão que era porque nunca querias ir para lado algum? Eras mau, e tu sabes disso. Mas, ainda assim, eu sinto a tua falta. A pessoas diziam foi melhor assim e a avó respondia o que ficava preso na minha garganta nunca é melhor morrer. Eu tenho medo da morte, sabes? É uma coisa que me atormenta... partir sem saber para onde. Sem saber o que acontece depois. Em que te transformaste tu? Foste para o Céu? Conheces agora o calor do Inferno? Ou estarás apenas reduzido a cinzas e a um monte de ossos dentro do caixão que eu não tive coragem de ver ser enterrado? Eu queria ter ido, sabes? Eu queria muito ter ido. Mas eu estive lá no dia anterior, e no outro. Estive junto de ti enquanto me foi possível. Há muitas pessoas falsas, sabes? E eu bem vi muitas delas naquele canto de igreja onde te depositaram para visitação. Eu bem vi como conversavam cá fora, desprezando o corpo que lá dentro repousava. Eu bem percebi como muita gente dá mais importância a coisas fúteis. A tua morte fez-me entender muita coisa. E há coisas que eu preferia não entender. Às vezes somos felizes na ignorância!
E eu sinto a tua falta.